Querer entender a liberdade me mostra que sou prisioneiro. Afinal, é no antagonismo que percebemos o que nos falta.

Vivemos em uma sociedade que valoriza tudo a partir do capital. Por isso, nossa vida acaba por girar em torno do trabalho, e fica difícil ser livre. Mas o que fazer quando a qualidade de vida está relacionada ao preço das coisas?

As condições monetárias nos fazem escravos e reféns de algo que, no final, não possui valor nenhum. Apesar de todos os danos que o dinheiro pode causar na vida das pessoas, é frágil. Basta uma crise econômica para que todo o seu capital perca poder de compra, e logo você não poderá acumular nada mais que papel.

O trabalho deveria ser fruto de um prazer, no qual me reconheço e que faço para poder consumir o essencial. Não o único fim. Mesmo que pareça utópico!

Em uma sociedade que, de modo geral, acaba valorizando as pessoas pelo que elas POSSUEM, e não mais pelo que SÃO, torna-se difícil realizar uma mudança no modo de agir, que nos levaria à experiência de liberdade, acompanhada de felicidade.

A falta de liberdade é tanta que não percebemos que, desde o dia em que dizemos nossa primeira palavra, somos preparados e conduzidos ao mundo do trabalho. Nossos dias, calendários, escolas respeitam esse modelo rigorosamente. E ai de quem tentar fugir desse modelo! Correrá o risco de viver em extrema pobreza. Além disso, não adianta só entrar no jogo do trabalho: você precisa ter oportunidade, ou seja, “sorte” para garantir sua entrada… Se não conseguir, fatalmente a miséria tomará conta de sua vida, e você ainda será visto como um problema que impede os outros de se tornarem mais poderosos. Como se a desigualdade social já não fosse o elemento-chave para a sustentação de uma elite econômica.

Não digo isso por não gostar do trabalho ou do que eu faço; pelo contrário, sinto-me até privilegiado. É bom poder trabalhar no que se ama, exime em parte o ar de escravidão ao mundo capitalista.

Mas minha preocupação é com o humano que vive nessa jornada em busca de uma felicidade que só o capital “seria” capaz de proporcionar, esquecendo-se de que o essencial não tem preço, não tem custo, e de que a felicidade é feita de coisas tão pequenas, sem valor capital atribuído.

Pense em tudo que fez ou faz você feliz e verá que dinheiro nenhum, riqueza nenhuma é capaz de comprar. Afeto, carinho, atenção, saúde, o abraço das pessoas que amamos… Isso não se compra, não se encomenda, afinal, se o outro não quiser, não haverá dinheiro no mundo que vai fazê-lo nos proporcionar essa dose de felicidade. Nessa hora, você vê que todo o seu esforço de nada adianta. Às vezes acho que por isso vivemos em tempos de muita depressão e tristeza…

Tudo que conquistamos com nosso trabalho, apesar de nos proporcionar, sim, a felicidade da vitória, nada mais nos dá além de riqueza para acumular coisas.

E nesse movimento de trabalha, compra, trabalha, compra, só devastamos o planeta, diminuímos nossas possibilidades de qualidade de vida… E a vida passa, corre, e o tempo acaba. Não digo que não devemos trabalhar, mas, no fim, não deveria ser a riqueza nosso objetivo; deveria ser a busca por uma vida digna para todos. Ninguém deveria ser escravo de ninguém, não deveria ser permitido que fôssemos explorados… Força e inteligência deveriam ser igualmente valorizadas, pois em sociedade precisamos uns dos outros para viver, próximo do equilíbrio que a natureza nos mostra que deve existir.

Às vezes, quando pergunto por quais motivos determinada profissão ou profissional é mais bem remunerado que outro, me respondem que é pelo esforço na formação ou pela intelectualidade… Mas, sinceramente, não sei… O que percebo é que precisamos de muitas habilidades e competências, frutos da vocação de cada um. Todos os profissionais são essenciais para o equilíbrio que vai sanar as necessidades do cotidiano da vida humana, e o fato de valorizarmos a cada um nos permite possibilidades de avanço. Afinal, não é na fome, na doença e nas desigualdades que crescemos. O chamado “desenvolvimento” é fruto de angústias, dúvidas, necessidade de melhorar as condições de vida e de responder a perguntas.

Por entender que somos sociedade, vou sempre defender a equidade, a igualdade e a justiça. Todos deveriam dar o melhor de si e receber o melhor para si. Não como favor, mas como condição por assumirmos que precisamos dos outros para viver. Precisamos aprender a ser humanos. Isso é urgente!

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